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SGC #14 - Enxergando além, a inesperada atitude do Grande Mestre, uma reflexão com o exemplo de Shion de Áries

Na Saga de Hades do anime clássico de Saint Seiya, diversos cavaleiros são trazidos de volta a vida pelo Imperador do mundo dos mortos Hades, e assim velhos conhecidos se tornaram novos inimigos, a oferta era de que matassem a deusa Atena e como recompensa obteriam a vida eterna, porém, dentre eles havia um rosto novo para os fãs da obra, na verdade é uma personagem bem antigo, mas que só foi devidamente apresentado naquele momento, estou falando de Shion, um antigo cavaleiro de ouro de Áries e também antigo Grande Mestre.

Para quem não sabe Grande Mestre ou Mestre do Santuário nada mais é que o representante de Atena na Terra, tendo este a função de liderar o exército de Atena, sendo assim o plano de Hades era “asqueroso” ele não teria simplesmente convocado alguns de seus servos para executar seu objetivo, e sim buscou corromper alguns dos leais soldados de sua sobrinha, homens honrados que em vida lutaram pela paz e pela justiça, era uma traição tão grande que dentre eles estava o Shion, que por aquilo mencionado anteriormente pode ser resumidamente reconhecido como o “braço direito” de Atena em seu tempo.

Infelizmente não é incomum encontrarmos “traidores” já que como está escrito “...até por um bocado de pão o homem prevaricará” (Pv 28:21b) quanto mais com uma oferta melhor, sendo assim é fácil no mundo real encontrarmos pessoas que anteriormente lutaram lado a lado, lutando agora como inimigos por aceitarem uma “oferta” mais atrativa, Judas, por exemplo, traiu o Homem mais nobre de todos os tempos por 30 moedas da prata, uma tola escolha, porém, que serve para ilustrar como existem pessoas neste mundo dispostos a trair outros, mesmo que estes outros sejam pessoas valorosas, porém, no caso de Shion existia algo a mais.

“Eu falei para prestarem atenção, mesmo estando mortos sempre seremos cavaleiros de Atena, nenhum de nós venderia a alma à Hades, jamais! Saga, todos os outros, sempre seremos cavaleiros de Atena mesmo quando Hades prometeu à todos nós a glória de uma vida eterna, nunca sacrificarímos Atena por nada nem ninguém.” (Shion)

No final de contas Shion e os demais concluíram a missão de matar Atena, porém, não foi ela que foi traída, na verdade o traído é ninguém menos que Hades, deixe-me explicar, o universo de Saint Seiya é conhecido principalmente por conta das icônicas armaduras que diversos personagens usam, dentre estas armaduras as mais poderosas elas são as armaduras divinas que normalmente são utilizadas somente pelos deuses, e alguém que tem uma destas armaduras é justamente a deusa Atena, entretanto o acesso à ela não é algo tão simples quanto parece.

As armaduras são extremamente poderosas, porém, tem uma “fraqueza”, elas são como se fossem seres vivos e assim podem se “ferir” nas batalhas e até mesmo morrer, e a armadura de Atena estava morta devido à confrontos passados, enquanto uma armadura viva pode aumentar e muito o poder do usuário, uma armadura morta e nada é a mesma coisa, mas prosseguindo, para reviver uma armadura é necessário “vida” ou melhor dizendo, sangue, e uma armadura divina só pode ser revivida com sangue divino, entretanto enquanto curar as feridas de uma armadura já consome muito sangue, reviver uma armadura normalmente custa a vida de um indivíduo, sendo assim, para reviver a armadura de Atena infelizmente era necessário a vida da própria Atena.

A informação com relação ao paradeiro da armadura divina de Atena era algo que poucos sabiam, sim, nem mesmo Hades sabia disto, e assim Shion com esta informação arquitetou um plano para enganar o deus dos mortos e neste plano teve a colaboração dos outros cavaleiros revividos, eles agiram como traidores de maneira magistral e mantiveram a aparência até o final para que Hades não descobrisse, ao ponto de enfrentar seus antigos aliados como se fossem verdadeiros inimigos, já que Hades colocou servos seus os seguindo para assegurar que cumprissem com o combinado, enfim, estes homens jogaram fora a sua honra para poder cumprir a sua missão, mas não foi em vão.

Você pode afirmar “que absurdo nada justifica uma traição destas”, mas antes de expressar um julgamento é necessário compreender o cenário, Atena tem 88 Cavaleiros, dentre estes 88 muitos estavam mortos inclusive cavaleiros de ouro que é a mais alta patente, sendo assim o seu exército estava longe de estar com o poder total, em contrapartida o exército de Hades estava praticamente completo e não para por aí, ele também tinha entre seus aliados dois outros deuses, sendo estes Thanatos e Hypnos e outro detalhe, todos os 3 deuses tinham em posse suas armaduras divinas plenamente vivas, enquanto isto como já mencionado a armadura de Atena estava morta, sendo assim o cenário não era nada bom para ela.

Se Hades triunfasse a humanidade pereceria, sendo assim bilhões morreriam, o cenário apresentado anteriormente era bem mais favorável a ele, mas Shion sendo o Mestre do Santuário de sua geração tinha o objetivo de buscar a paz na Terra, ele podia ter optado por permanecer indiferente e não arriscar, porém, ele tomou para si a vergonha que a traição traria e se esforçou para cumprir sua terrível missão, no final de contas Atena foi morta, a armadura foi revivida e após certos esforços conseguiram levá-la ao mundo dos mortos para Atena a utilizasse e confrontasse Hades com seu poder total, além disto parte do sangue da deusa foi utilizado para restaurar as armaduras do protagonistas e fazê-las transcender do nível Bronze para o nível divino o que foi essencial para que os cavaleiros conseguissem triunfar contra os deuses gêmeos, Thanatos e Hypnos.

A lição que quero trazer é que a visão de algumas pessoas é limitada, eles analisam de acordo com o agora ou de acordo com o “óbvio” e desconsideram informações importantes, sim, o fato de os Cavaleiros terem se “rebelado” contra Atena e terem a matado no final de contas foi uma atitude grave, porém, é necessário analisar a situação como o todo, se eles não tivessem feito isto, bilhões pereceriam e pior como eu mencionei Hades é o Imperador do mundo dos mortos no universo de Saint Seiya e como mostrado na Saga de Hades fase Inferno, ele governa diversos tipos de infernos para torturar as pessoas “normais” e assim muitos não somente morreriam fisicamente como também seriam torturados para sempre, mas enfim, o fato é a atitude de Shion e dos demais “traidores” em última instância salvou incontáveis vidas.

Importante ressaltar que como já mencionei em outros textos os fins não justificam os meios, entretanto é necessário analisar ações de acordo com os contextos antes de qualificá-la como certo ou errado, certas ações que em uma ótica limitada possam ser consideradas “abomináveis” como foi o caso da traição de Shion e dos demais, no final de contas pode ser considerada mais correta do que uma indiferença de alguém que pode fazer algo e prefere ficar parado, de forma parecida nem toda ação que aparenta ser boa é realmente boa, dependendo da intenção com que ela é feita a “boa obra” é na verdade um fruto podre.

Agora deixe-me ilustrar um exemplo simples de algo que facilmente seria considerado como abominável mas que na realidade não é bem assim, imagine um pai que tem um único filho, e este pai mata este pai mata de maneira dolorosa e brutal este filho para salvar um estuprador, o que você acha dessa atitude? provavelmente desaprovaria não é?, porém, talvez você já tenha notado aonde eu quero chegar, mas caso não deixe-me deixar claro, ao contrário da ficção como em Saint Seiya aonde humanos podem matar deuses, no mundo real a divindade é imortal, sendo assim, nenhum de nós é capaz de matá-lo, a única coisa que é capaz de “matar” Deus é o próprio Deus, e digo isto porque, quem matou Jesus na cruz não foram os romanos, foi o seu Pai, o próprio Deus, na cruz com sua Ira Deus Pai matou Deus Filho, que era o seu único filho naquele momento e Ele fez isto sabe por qual razão?, para salvar um estuprador, na verdade muitos estupradores, também muitos assassinos, pedófilos, mentirosos, ladrões, adúlteros e muitos outros tipos de pessoas horríveis. 

Sim, se você enxerga a crucificação e Cristo de maneira limitada você encontrará a pior atrocidade da História aonde alguém sem culpa alguma morre por diversos culpados, mas quando você a analisar enxergando todos os contextos encontrará a mais bela de todas as dádivas da História, algumas pessoas até chegam a pensar “Se eu tivesse uma máquina do tempo eu impediria Jesus de morrer na cruz”, porque enxergam aquele momento de uma ótica limitada, como se fosse um “fracasso”, mas a verdade é que no final de contas é que da mesma forma que Atena entregou livremente sua vida para seus algozes sem relutar, assim também foi com Jesus Ele próprio quis entregar sua vida para que no final de contas o bem triunfasse e este nada mais é que um dos vários pontos que nos ajudam a entender melhor este momento.

Às vezes o custo de agir é alto, porém, algumas pessoas compreendem que o custo de não agir é ainda maior, e assim entendem que mesmo que os fins não justifiquem os meios, é necessário tomar certas atitudes para evitar um mal ainda maior, é como um remédio amargo e difícil de engolir mas que impede uma doença mortal, não é algo que gostamos de tomar, mas que pode ser necessário em algum momento, principalmente em cargos e posições em que lideramos outras pessoas como era o caso de Shion, as escolhas de um líder não influenciam somente a si próprio mas também diversas outras pessoas, uma atitude errada ou permanecer inerte de um problema não vai ser prejudicial somente a si próprio mas pode custar também incontáveis vidas.

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